quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Fim

Chegou a hora... Como assim? Confesso que, mesmo tendo feito contagem regressiva pra voltar, agora que finalmente chegou o momento de ir embora eu não consigo não sentir algo esquisito... Sei lá, parece que o Brasil, a minha casa, a escola e tudo mais são realidades tão distantes pra mim... Tomara que isso seja um bom sinal, de que eu consegui "mergulhar" mesmo nessa experiência (embora eu quisesse ter me desapegado mais das coisas, só que foi muito difícil).

Estava muito ansiosa para escrever esse post, sempre me pegava refletindo sobre algo e pensando "Isso eu tenho que colocar no texto!", "Não posso esquecer de falar isso!". Mas acontece que, agora que eu estou escrevendo, quase todas as minhas ideias, que já estavam prontas, parecem ter desaparecido e eu fico aqui na missão de pensar tudo de novo e transmitir o meu pensamento por meio de palavras. De um certo lado isso é até bom, porque um dos motivos pelos quais eu estava ansiosa pra escrever isso era justamente refletir sobre o meu intercâmbio, tudo o que eu vivi, o que eu senti, quais foram as minhas impressões...

Pois bem, vamos lá. Quando eu declarei que iria fazer intercâmbio, fui avisada várias vezes para não idealizar nada, não criar muitas expectativas porque tudo que iria acontecer seria diferente delas. Eu tentei, juro que tentei, mas entendam o meu lado: comecei a preparar a viagem com mais de 6 meses de antecedência - isso sem contar no tempo todo que eu tive pra pensar se iria ou não viajar. Esse é um tempo muito longo, e é impossível não se pegar imaginando "Como será que vai ser?", "Ah, eu queria tanto que acontecesse isso...". Então eu criei sim expectativas, e muitas vezes quebrei a cara. Calma, vou explicar.

Não tenho nada a reclamar do meu primeiro mês aqui. Passar um mês em Paris, um lugar que eu sempre tive vontade de conhecer, e poder ir aonde eu quisesse na cidade, foi uma sensação muito boa. Me senti livre, independente, capaz de decidir o que eu queria fazer e quando eu queria fazer e não ter que pedir pra ninguém me levar ou buscar. Essa sensação de liberdade foi uma das melhores coisas desse período.
Bom também foi poder conhecer pessoas de vários lugares... México, República Tcheca, Itália, Estados Unidos, Equador, Japão, Alemanha, África do Sul e, é claro, conterrâneos (na verdade, conterrâneAs) do Brasil. Dizer que fiquei amiga de todo mundo seria mentira e exagero, mas uma coisa que eu posso afirmar com certeza é que as pessoas com as quais eu mais me identifiquei e mais criei laços de amizade foram, em sua maioria, as que eu conheci nesse mês. Por isso eu gostei tanto dele e foi bem difícil ir embora, porque eu sabia que dali pra frente as coisas seriam mais complicadas.

Em Paris, todas as pessoas com quem eu convivi eram estrangeiras, todas tinham culturas diferentes e falavam línguas diferentes. Mas numa cidade pequena não, a diferente era eu, somente eu, e eu é que tinha que me adaptar a tudo, porque, afinal, para todas as pessoas que estavam ao meu redor, tudo era extremamente normal e familiar.

No início, busquei ser sempre positiva, pensando "Vai melhorar, eu vou fazer amizades, esse é só o começo". O tempo foi passando e eu fui perdendo um pouco a paciência. Talvez eu tenha errado aí, talvez eu deveria ter sido mais cara de pau, mais "intrometida" mesmo, mas como eu sempre tinha a impressão de que eu não fazia parte do grupo, que não estava 100% incluída, preferia evitar o incômodo que, provavelmente eu nem causava, mas sentia que sim.

Vou dar uma pausa aqui pra esclarecer uma coisa. Do jeito que eu estou falando, parece que eu estou "vilanizando", falando que todo mundo que eu conheci era chato e não queria a minha presença. Isso não é verdade. Com o tempo, aprendi que os franceses não são antipáticos (pelo contrário, as pessoas eram gentis e educadas), e sim, contidos. Mas sabe o que eu disse lá em cima sobre criar expectativas? Pois é. Eu achava que, por ser estrangeira, ainda mais num lugar pequeno, ia ser o centro das atenções, que todos iriam se interessar por mim e fazer perguntas sobre o meu país, a minha cultura... Só que eu tinha esquecido que é assim que as coisas funcionam no Brasil, e não na França. Aqui eles são mais na deles e, embora tenha sido difícil, eu aprendi a aceitar isso.

Embora tenha me dado bem com o pessoal da sala (especialmente no final) e conhecido algumas pessoas bem legais (essas, sim, que pareciam um pouco mais interessadas em mim), não fiz nenhuma grande amizade ao ponto de ter companhia pra sair nos fins de semana ou após as aulas. Assim, passei grande parte do meu tempo sozinha, e isso serviu pra que eu pensasse muito, refletisse sobre as minhas atitudes, questionasse a mim mesma. Acredito que dessa maneira passei a me conhecer mais e, de certa forma, crescido um pouco.
Antes de vir, fui a uma palestra organizada pela agência de intercâmbio na qual o palestrante, um psicólogo, disse algo do tipo: "Quando você pensar que estar sozinho, lembre-se de que não é verdade. Você sempre vai ter a companhia mais agradável de todas: você mesmo.". Me lembrei disso várias vezes e comecei a fazer uma coisa que a minha mãe ama, "brincar de Pollyanna", isso é: tentar ver o lado bom das coisas. Fiz isso algumas vezes e algumas coisas parecem ter ficado um pouco mais leves pra mim.

Arrependo-me de em dois pontos essenciais: não ter insistido muito para mudar para uma turma com alunos mais velhos (já que na minha turma eles tinham 14/15 anos - e sim, um ou dois anos mudam MUITO, ainda mais aqui que as pessoas não são tão "pra frente") e de ter enrolado tanto pra decidir fazer alguma atividade física, porque, quando eu finalmente decidi, não deu mais (esse arrependimento se deve tanto ao fato de eu ter ganhado peso quanto ao fato de eu ter perdido a oportunidade de conhecer mais gente).
No entanto, não me arrependo em nenhum instante de ter feito intercâmbio. Questionei, sim, a escolha de vir pra França. Às vezes penso que se eu pudesse escolher de novo, teria escolhido outro país, mas aí aparece a voz da Pollyanna na minha consciência dizendo que, se eu estivesse escolhido outro país, não teria ido nos lugares lindos que fui, não teria conhecido algumas das pessoas fantásticas que conheci e não teria aprendido esse idioma tão lindo que eu espero ter a chance de utilizar em outras ocasiões.
Então, quando eu chegar no Brasil amanhã a noite, espero que as minhas lembranças mais vívidas sejam as dos momentos bons, como por exemplo: a sensação boa de não ter que preocupar com estudos e provas; como eu ficava feliz por coisas simples tipo quando alguém puxava assunto comigo ou me fazia um elogio (seja sobre meu progresso com a língua, seja sobre a minha aparência, seja sobre a minha "coragem" de fazer o que eu estava fazendo, não importa...); todas às vezes que eu via alguém querido, etc... Mas não, também não quero esquecer 100% das vezes nas quais me senti sozinha, triste, desorientada, porque eu prefiro pensar que esses momentos serviram pra alguma coisa - me fazer amadurecer, por exemplo.



Saio daqui feliz comigo mesma de não ter considerado desistir nenhuma vezinha sequer. Saio daqui feliz por ter conhecido (embora em número menor do que eu queria) pessoas muito legais. Saio daqui feliz, por que não, por ter comprado coisas que eu não poderia ter comprado no Brasil. Saio daqui feliz por ter conhecido três países que eu não conhecia antes. Saio daqui feliz por ter tido uma boa host family que sempre buscou me ajudar. E, acima de tudo, saio daqui feliz e orgulhosa comigo mesma por ter vivido tudo que eu vivi, por ter tido coragem e por ter chegado até aqui basicamente sozinha.

Estou muito contente de voltar pra casa, porque a saudade não mata não, mais dói muito!! Não consigo imaginar o que vou sentir quando eu ver todo mundo, sério, acho que o coração não vai aguentar de tanta emoção!
Outra coisa também que eu tenho que falar é que esse intercâmbio serviu pra reafirmar o quanto eu amo o meu país. Nunca tive nenhuma dúvida quanto à isso, mas agora eu tenho ainda mais certeza de que nasci no lugar certo. Sim, tem muuuuita coisa errada no Brasil (e algumas dessas coisas ficam ainda mais evidentes quando se está na Europa), mas eu não trocaria esse país por nada não, viu?

Chego aqui ao fim do post. Obrigada, obrigada, obrigada a todos vocês que acompanharam esse blog, comentando ou não. Obrigada a todo mundo que sempre me apoiou, vocês me ajudaram muito aqui!!!
Como esse post não teve nenhum relato, vou ser objetiva e dizer que estou em Paris desde ontem e, amanhã de manhã pego um avião pra Lisboa e depois outro pra BH, onde chego às 21h40.

Mal posso esperar pra ver vocês!
Beijos, beijos, beijos!
Lorena


17 comentários:

  1. Looo!!!
    Cada vez mais lindo o que vc escreve!! Eh de emocionar qualquer um! Aposto um milhao que sua madrinha vai chorar quando ler!!!

    Estamos ansiosos pra sua volta!!!
    Beijos, Juju!!!
    Boa viageeeeem!!!

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  2. ameeei o post, até arrepiei, juro! lendo algumas coisas que você escrevia, a gente (eu e as meninas) ficava aqui tentando imaginar o que você tava achando do intercâmbio de uma forma geral e etc, e foi muito bom ter as respostas agora, e, principalmente, ver que foi bem positiva! hehe finalmente hein, UM DIA! saudadess! Ana L

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  3. oooo tchucosa, fiquei emotiva, mas que nem a ana lubina disse, foi bom saber que que voce achou de tudo, to super super super ansiosa pra te ver amanha!! TE AMO
    jubi

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  4. ps: voce escreve muito bem, sua chata
    jubi

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  5. Loc, sua linda!
    Me aguarde, vou te apertar demais!
    Seus textos são lindos,gostosos de ler,emocionantes...
    Parabéns pelas superações,pelas conquistas,pela determinação em dar certo!!!
    Vc BRILHOU! Te amo! Tia Iude

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  6. Lorena, muito bom acompanhar seu intercâmbio, suas aventuras e o seu crescimento através do blog. Com certeza um exemplo de superação e de coragem , além de experiências que nao seriam possíveis aqui nem em 5 anos. Bom retorno à antiga rotina e estudos! Boa viagem e aguarde com paciência os novos episódios de OUAT. Beijos, Daniela

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  7. Lorena, te digo de coração que foi um prazer te acompanhar nessa viagem! Desejo que vc aprenda sempre com tudo, as experiências existem pra isso! Guarde TODAS as recordações pq elas fazem parte da sua história! A essa hora vc já deve estar chegando aqui, na nossa cidade,que sim, é linda demais! Parabéns por ter conseguido realizar seu sonho! Muitos beijos pra vc e Seja bem vinda de volta!!
    Adriana

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  8. Minha querida filha. Lendo este último post do seu intercãmbio fico querendo registrar aqui toda a emoção que senti ao lê-lo. Impossível! Teria que ser um comentário imenso ou vários deles (como sempre,né?). Limito-me(com grande esforço) a te dizer que estou extremamente orgulhosa por você ter conseguido vencer um desafio tão grande. E de forma brilhante! E te agradeço por ter dividido conosco as suas conquistas, alegrias e tristezas que você, deliciosamente, ao longo desses seis meses foi descrevendo aqui. Imagino como você está se sentindo, ansiosa por voltar para a sua terrinha, mas tendo que se desligar de uma experiência tão interessante...
    Estamos te esperando para você nos contar, pessoalmente, mais histórias,tá? Te amo demais. Bisous de Maman.

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  9. Mantendo a tradição : Eu sempre disse que "brincar de Poliana" é uma boa ideia! Que bom que você aprendeu isso também.
    Plus de bisous de Maman.

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  10. Aaahh Tia Iude falou exatamente oq eu tava pensando...

    Vc brilhou!!! Hahaha

    Estamos te esperando! Beijos,

    Two

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  11. meu deuuuuus!
    tem como eu ter mais orgulho de voce nao! <3

    sem palavras!

    te amo muito e to te esperando, assim como todo mundo que te quer muito bem aqui :D

    ATE AMANHA!
    :)

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  12. Lorena, Não vou falar nada. Só isso: Li seu post e chorei.Chorei muito.
    Seja bem-vinda. Beijos, Gladis

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  13. Que delicia Lorena, mais uma etapa linda sendo vencida. Pude te conhecer mais nesta ideia fantástica do blog.Vc cresceu, conheceu, chorou, riu muito e amou muito tudo. Parabéns now get ahead!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Muito sucesso mesmo.beijinhos Mary

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  14. Je suis super heureuse pour toi Lorena, t'es une fille mature et très intelligente, c'est vraiment bien que tu ai fais le voyage et que tu ai eu le courage de le faire! T'es très forte parce que ça a pas du être facile tous les jours, et tu aurais du être ma correspondante!! Enfin bref, tout ça pour te dire que j'étais très contente de te connaître, que je te souhaite beaucoup de bonheur et de chance pour la suite, ça va changer beaucoup de choses pour toi ce voyage, comme ta vision du monde etc..
    Bon retour, je pense à toi!
    Beijos, Oriane de France héhé :)

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  15. Meu Deus, Loc, como vc amadureceu!!! Vou repetir a glads: eu chorei, chorei e chorei! Te amo muito, bjs, tia Licia

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  16. Querida Lorena, Impressionante ler seu texto e ver como a menina que eu vi crescer se tornou uma pessoa tão madura e especial! Genial você ter conseguido contar esta sua história. Tenho certeza que adiante você vai pensar sobre este tempo da sua vida, fazer novas reflexões, sentir saudades, reler os textos... e ver como algumas decisões, alguns rumos, têm impactos importantes na pessoa que você está se tornando! Pudemos acompanhar um pouco deste caminho no seu blog. Algumas vezes chorei lendo o que você escreveu, mas hoje, estou muito orgulhosa de você!! bjs e parabéns!! Soraya

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  17. Lo, to tao orgulhosa de voce! Fico muito feliz de poder ter vivido com voce essa experiencia, que só realmente quem vive sabe como é. Voce conseguiu traduzir todos meus sentimentos nesse texto. Aproveite por mim o Brasil e à bientôt, te amo
    Mariah

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